De tempos em tempos realizamos no espaço Rota da Psicanálise alguns encontros para exposições de obras, discussões, debates e leituras que abordem a Psicanálise. Em agosto desse ano, decidi ampliar os encontros para leitura de obras com temas gerais e inauguramos as rodas de leitura. Começamos com a leitura da obra “Todos contra todos” do historiador Leandro Karnal onde ele aborda o ódio nosso de cada dia.
Foram previstos quatro encontros que se dividiriam entre leituras e discussões, no entanto, foi tão produtivo que nos vimos obrigados a realizar um encontro a mais para finalizar com chave de ouro e, ainda assim posso dizer que faltou tempo para maiores aprofundamentos.
Sobre a obra
Desde o início das leituras percebemos que Leandro Karnal sustentaria suas teses com bases históricas, antropológicas, sociológicas e psicanalíticas com narrativa afiada e provocadora, como já é de costume ver em suas palestras.
Primeiro dia de leitura
Enquanto moderador das rodas de leitura anotei alguns temas que foram discutidos no primeiro dia. Foram eles:
- Divisão;
- Jesus;
- Freud;
- Pulsão (de morte);
- Ódio e comunicação;
- Psicologia das massas e análise do eu;
- Monopólio;
- Eu/outro;
- Violência;
- Narcisismo;
- Fantasia;
- Idealismo;
- Frustração;
Segundo dia de leitura
Em nosso segundo encontro a leitura da obra “Todos contra todos” nos conduziu a debater possíveis origens para o ódio e foi possível verificar que ao longo da história os motivos se repetem e se renovam. Algumas prováveis origens são:
- Medo;
- Insegurança;
- Ignorância;
- Frustração;
- Falta de reconhecimento;
- Mitos;
Terceiro dia de leitura
O terceiro encontro foi dedicado a discutir exclusivamente o “ódio”, este foi visto por várias perspectivas, conseguimos assim pensá-lo até mesmo considerando diversas opiniões dos presentes que colaboraram com experiências que tiveram em suas vidas. Algumas perspectivas foram:
- Temos mais horror à nossa imagem de ódio e violência do que do ódio e da violência em si;
- O preconceito e o ódio são apreendidos e estruturados;
- Odeio àquilo que temo;
- O ódio ao outro é um amor narcísico;
- O ódio é um lugar quentinho, me protege do que temo;
- É mais fácil fazer parte da tribo do que ter uma identidade própria (ódio ao diferente).
Quarto dia de leitura
Em nosso quarto encontro nos dedicamos a leitura dos capítulos finais do livro, porém fizemos varias paradas para retomar alguns assuntos vistos anteriormente, pois o próprio autor propunha agora um enlace entre os temas, afinal preparava-se para possíveis conclusões. Decidimos então nos encontrarmos na semana seguinte para um quinto encontro visando discutir as conclusões de Leandro Karnal.
Quinto dia de leitura
Após quatro encontros, muita leitura, discussões e debates foi possível entender o percurso que o autor fez para embasar suas hipóteses de soluções para lidar com o ódio nosso de cada dia. São elas:
- Coerção – realizada através de leis, por exemplo, contra racismo, homofobia e violência, entre outros;
- Consenso – conseguido através de investimentos em educação e cultura, desde a base;
- Paramos de ensinar o ódio as crianças, afinal o ódio é estruturado em cada sujeito e na sociedade;
- Interromper a educação do ódio e assumir nossas diferenças, respeitá-las e promovê-las;
- Procurar um Psicanalista para lidar com seus complexos, se possível;
Todos os participantes tiveram a oportunidade de expor suas ideias, de forma respeitosa e produtiva, momentos acalorados ocorreram sem problemas, cada qual sustentando suas articulações com bom senso e aproveitando o tempo e espaço para produzir conhecimento e cultura, levantando questões importantes para nossa sociedade e convívio, participando ativamente de nossos processos civilizatórios podendo promover um futuro onde o ódio possa ser combatido, assim como os preconceitos.
