Estamos vivendo uma pandemia, neste momento somos impactados pelo Covid-19, um vírus novo que se alastra pelo mundo rapidamente causando mortes e incertezas.
Somos bombardeados por informações em todas as mídias, além de muitas dicas e orientações de como nos comportarmos para atravessarmos esta situação da melhor forma possível.
Penso que cada um está tentando ajudar como pode e a partir do que sabe.
Porém, gostaria de refletir um pouco mais.
O psicanalista Jacques Lacan introduziu em sua teoria o conceito de Real.
Real é o que nos escapa, não há palavras que deem conta de dizê-lo, por isto ele é tão difícil de apreender, em uma Psicanálise somos capazes de percebê-lo, mas não somos capazes de colocá-lo em palavras.
É como naquele sonho em que acordamos na hora H, em que nada daria conta do que estaria por vir e só nos resta acordar de súbito. Acordar para não ver.
Normalmente somos atravessados pelo Real do cotidiano de nossas vidas, o que não é fácil de lidar, mas desta vez, fomos atravessados enquanto humanidade, isto é inédito para muitos de nós.
Se no coletivo temos muitas dúvidas e incertezas, não penso que no particular seja diferente. Cada um de nós é uma estrutura, seja neurótica, perversa ou psicótica, e acrescente as estruturas as formas como se manifestam, tais como, histeria, neuroses obsessivas compulsivas, perversões, esquizofrenias, paranoias entre muitas outras.
Partindo desta premissa, cada sujeito lidará com este Real singularmente, ainda dentro de um coletivo, o eu e o coletivo não são isolados, assim compreendemos com o livro de Freud intitulado, Psicologia das Massas e Análise do Eu, que a análise de cada sujeito corresponde também a análise desta coletividade. Sendo assim, já vejo em minha clínica o aumento de hipocondrias, TOC`S, crises de ansiedade, etc;
Frente a este estranho desconhecido que nos afeta em massa, mas também um a um, não temos respostas prontas e meios para lidar que sejam previamente organizados e suficientes.
Acredito que, um a um, teremos que usar nossa criatividade para lidar com o que não sabemos, com o que nos angustia pelas incertezas com relação ao presente e ao futuro.
É preciso ter em mente que cada escolha particular afetará a todos, que cada ato ira compor uma multiplicidade de atos e que devemos ser responsáveis pelo que está por vir, pelas faltas que teremos e pelas consequências que enfrentaremos, particular e coletivamente.
Crescemos ouvindo as pessoas dizerem que não há caminhos sem volta, mas há voltas que não precisamos dar e custo acreditar que ao voltarmos os caminhos continuam os mesmos, tudo muda o tempo todo. Está na hora de mudarmos também e lembre-se, sua escolha afeta a todos.
É preciso mudar porque o mundo muda conosco, somos afetados e afetamos a tudo e a todos e vale lembrar que não somos senhores em nossa própria morada, já dizia o pai da Psicanálise. É claro que Freud se referia a Psique, mas este raciocínio é facilmente estendido ao planeta Terra, morada de todos nós, na qual não somos senhores, a dividimos com muitas outras espécies mas, por esta moradia somos todos responsáveis.
