Meu primeiro caso clínico se chamava Darci, e permanece, ainda sou meu primeiro caso. Escutar a mim mesmo tem sido árduo.
Olhar para os olhos da Medusa e ver a própria verdade é petrificante, por isso, foi necessário olhar pelo reflexo, assim fez Perseu, que usando um escudo escapou de ver a si.
Na vida somos como Perseu, usamos de escudos para não enxergamos dentro de nós. Porém, Freud percebeu que havia um outro caminho que permitia nos aproximarmos disto que nos habita. Contemplar o inconsciente fazia emergir este estranho que há em cada um de nós e fazê-lo falar.
Ainda que “fale”, é difícil escutar, nos protegemos de nossas próprias enunciações. Todos estes anos sendo analisante me fizeram perceber muitos de meus escudos, de alguns me desarmei, de outros não consigo abrir mão, o medo é maior, resisto.
Sei que há coisas em mim que temo e foi pensando nisto tudo que caiu minha ficha, sou meu primeiro caso clínico, o caso mais difícil que enfrento até hoje.
É mais fácil (não que seja fácil) escutar os pacientes que à mim.
Nesta perspectiva sou meu primeiro e, também, meu eterno caso.