Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de algoritmos
magem: Getty Images/iStockphoto

Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de algoritmos

Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de algoritmos. Foi parafraseando Freud que atendi um pedido de Ariane Leite, profissional de marketing digital, que me solicitou uma frase interessante, que causasse impacto e transmitisse o atual momento vivenciado por pessoas que de alguma forma sofrem com a revolução tecnológica.

Revolução tão impactante que escuto diariamente pessoas em meu setting psicanalítico que se mostram perdidos no modelo de mundo em que vivem. O psicanalista Jorge Forbes chama esse nosso velho novo planeta de Terra2, justamente para marcar uma nova era, diferente daquela verticalidade em Terra1. A tecnologia nos permitiu uma horizontalidade até então não possível devido aos velhos modelos, porém em Terra2 vivemos em rede, todos conectados.

Como consequência temos o fim da privacidade, todos são vistos, o tempo todo, seja por pessoas, empresas ou aplicativos que nos rastreiam mesmo quando offline. O medo da tecnologia chega àqueles mais receosos quando o assunto é inovação, podemos até falar em angústia frente ao desconhecido e, nessa altura surge o risco a tentativa de retorno, como se velhos hábitos dessem conta de novos problemas, o que eu particularmente não acredito.

Novas situações requerem soluções inovadoras. Até Nietzsche já nos deu um alerta quando disse que, logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados.

É fato que estamos no meio do olho do furacão, quando perguntam se estou bem com a tecnologia direi que, usufruo de suas vantagens, mas sofro com o que ainda considero desvantagens, me incomoda a sensação de ter pessoas em meu bolso, me incomoda a covardia dos que se sentem a vontade para falar quaisquer imbecilidades escondidas atrás de uma tela ou propagar notícias falsas. Incomoda a ansiedade das pessoas que requerem respostas rápidas e me pego sendo ansioso também. Tenho medo de tecnologias radioativas, tenho receio de hackers, de roubo de dados, etc; não me excluo.

Por outro lado vejo essas mesmas tecnologias aprimorando a medicina, a saúde, os meios de transporte e de comunicação. Hoje é possível agilizar um pedido de comida por aplicativo, reservar um quarto de hotel, pedir uma carona, administrar finanças, meu celular fala comigo, avisa sobre minhas rotinas e compromissos, posso pagar contas no sofá da minha sala. Filas nunca mais!

Dentre vantagens e desvantagens estamos nós tentando encontrar, ainda, uma maneira de lidar com esse novo mundo e suas demandas. Não acredito que ser reacionário seja a resposta, prefiro, pela via do desejo, transformar minhas angústias em fonte criativa e não recuar diante do sofrimento. A tecnologia, as máquinas, os algoritmos tendem a ser uma possibilidade até mesmo de uma vida mais qualificada quando soubermos lidar com isso, os algoritmos farão tudo aquilo que for repetitivo e a nós caberá a fonte criativa. Somos seres semióticos, capazes de invenção, de ir além do instintivo, somos seres de linguagem e podemos encontrar novas formas e fórmulas para esses nossos novos dilemas.

Mas até inventarmos novas saídas teremos essa sensação de que somos feitos de algoritmos quando continuamos sendo de carne e osso.

 

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Darci Martins

Darci Martins é Psicanalista, graduando em Filosofia e, além dos atendimentos clínicos, dá consultorias e cursos presenciais e online.

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